REGRAS PARA COMPETIÇÃO INFANTIL:
Por Marcus Rezende.
Não vejo por que fazer um regulamento cheio de detalhes que em última análise
não modifica em nada o cerne da questão. As regras de competição para crianças e
pré-adolescentes não podem passar pela violência dos chutes. Isso precisa ser ponto
pacífico. É preciso ter coragem para respeitar o que está no Estatuto da Infância e do
Adolescente.
Art. 5° - Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na
forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 17 - O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,
psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem,
da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos
pessoais.
Art. 18 - É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-
os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
constrangedor.
Não é preciso ir mais longe no ECA. No respeito aos três artigos acima, de cara, as
regras para competições de luta para praticantes até 13 anos, 11 meses e 29 dias, não
podem contemplar negligência, violência e crueldade. Uma criança chutando com toda
a força em um protetor de tronco ou mesmo as pernas, socando o protetor ou os braços,
clavículas é um ato de violência (isso é claro). Deixar que crianças e adolescentes
passem por essa situação, além de permitir que técnicos façam com que fiquem sem
comer para passar na pesagem, é negligência. Deixar que uma criança com menos
técnica que a outra passe por uma derrota acachapante esperando que os minutos
passem e a luta termine, pois o técnico não vai jogar a toalha, tampouco o árbitro vai
interromper a luta, é crueldade.
Todos sabemos que em todos os campeonatos de crianças de 6 a 13 anos, o exposto
acima ocorre. E nada se faz.
Somente preservando o art.15 é que se pode não violar os artigos 17 e 18 do ECA.
Portanto, se a CBTKD não quer desrespeitar a LEI, deve esquecer tudo o que foi feito
com praticantes dessas faixas etárias ao longo de todos esses anos de competições de
categoria infantil e mirim.
A proposta para as regras de competição já foram feitas em 2002 e aplicadas em 2003
no Open Cidade Maravilhosa daquele ano.
Vou me ater ao que acho mais importante. Detalhes quanto à forma de arbitragem e
tamanho da área de competição, pode ser regulamentado com mais calma. É algo que
não vai causar nenhum impacto ao que exponho a seguir.
Primeiros pontos:
•
A competição para praticantes até os 13 anos, 11 meses e 29 dias só poderá
contemplar o toque leve e técnico. Toda a movimentação de luta olímpica
continua, as técnicas velozes também. O praticante terá que zelar pelo cuidado
de não acertar o oponente com força. Isso é o que ele mais faz na academia. O
praticante que chutar mais forte receberá uma penalização de um ponto. Muitos
podem achar que o praticante com 13 anos já está pronto para a luta mais forte.
Se assim fosse, a WTF contemplaria essa categoria de peso. O início do contato
forte em competições, somente aos 14 anos.
Não haverá divisão de pesos. Crianças nessa idade não podem nem pensar em
perder peso para ficar em alguma categoria. E todos sabemos que isso ocorre.
Portanto, a divisão seria por gub e idade. A idéia (que pode até ser modificada,
pois acaba não importando muito) grosso modo seria: 8º Gub / 6º a 5º Gub
/ 4º a 3º Gub / 2º a 1º GUB. Faixas pretas seguiriam o mesmo parâmetro.
Consideração 1: Dificilmente haverá WO. No caso de crianças com idade de 6
a 8, ou mesmo abaixo de 10 anos. Consideração 2 a competição seria a mesma,
mas todos os competidores receberiam medalha de ouro. Consideração 3: fim
das filas intermináveis de crianças para a pesagem.
•
•
Buscando evitar o constrangimento de uma derrota acachapante no placar (art.
18 não exposição da criança ao tratamento vexatório e constrangedor), o placar
eletrônico seria retirado, não importando se o resultado foi de 1x0 ou 10 x 0. Os
oponentes não vão saber. A marcação ficará na mesa de controle, para eventual
recurso.
•
A marcação por dois ou três juízes laterais será feita em papeletas e entregues
ao árbitro central. A marcação é a mesma que ele já conhece. No momento da
entrega das papeletas é importante se pensar na celeridade dessa movimentação,
para que não se perca a velocidade na divulgação do resultado que se tem com o
placar eletrônico.
•
O árbitro central é a figura mais importante para o sucesso da competição. É o
grande responsável pela integridade física dos competidores. Ele é o mediador e
precisa ter pulso firme para conter qualquer ato de violência.
•
Uma competição nos moldes sobreditos, seria também um respeito a própria
WTF, pois a entidade internacional não se utiliza de categorias de peso para
quem tem menos de 14 anos.
E a CBTKD trabalha no campo desportivo no mesmo diapasão da Federação Mundial.
Seguindo os parâmetros acima, criar a formatação de detalhes quanto a sorteio,
pesagem, tamanho da área de luta, duração do combate e disposições gerais, seria
trabalho de segundo momento, para uma comissão que envolvesse a Diretoria Técnica
da entidade.
Marcus Rezende foi atleta na década de 80, é mestre 6º dan de taekwondo, jornalista e
comentarista do taekwondo da Sport TV.
Nota do Tkdlivre: Não é de hoje que este Mestre vem chamando a atenção para o
assunto, leia outro artigo publicado há tempo aqui mesmo no Tkdlivre:
"Ms. Marcus Rezende e a idéia de proibir lutas infantis nos moldes olímpicos"
Fonte: TKDLIVRE
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